domingo, 29 de novembro de 2009

Voz reflexiva

Preciso te reconhcer.
Já deveria ter chegado
e ter ficado
mas me conformaria, se aparecesse.

Nossas vidas devem ter se cruzado em outro tempo
em outra vida
de tanto que já te conheço
e por que sabe o que quero para nós.

Não é possível.
Nós temos uma música especial
que dançamos de rosto colado
nós temos um lugar especial
onde voltamos sempre.

Nós já viajamos juntos
nas asas da imaginação
da minha.

Nós já planejamos compras e nos divertimos.
E eu sei qual é o seu perfume favorito.

Já temos uma vida
só falta acontecer.

sábado, 28 de novembro de 2009

A casa caixa

A casa era tão pequena que não podia receber visitas.
Mal a cabia,
só cabia o que era.

A casa era tão simples...
as paredes não eram pintada
nem o chão era forrado.
Combinava com dona.

Os inúmeros quadros
sua história
sua memória
estavam ali, ainda que ninguém notasse.

E ela também já não fazia questão deles.
Entregou a sensibilidade.
O frio e o calor a afagavam
e ela não ligava.
Pouco importava o que vivia
ela não queria mais razão.

A casa não era confortável
Ela se sentia mal.
Tinha dor nas costas e insônia
tinha também resignação ali
embora sonhasse com atenção.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Força

A pintura das letras do teclado saiu.
Não deu conta do meu digitar.
Também, meus dedos reclamam do esforço
mas mesmo assim não se furtam de proteger as letras
do perigo iminente da mudez.

Contra-tática

Tarde chuvosa, solidão charmosa,
caderno moleskine, caneta,
poltrona retrô, caneca transada (com líquido fumegante),
tudo perfeito.

-pontuação-

-Inspiração!

-Chega desse joguinho. Fui!

domingo, 22 de novembro de 2009

Análise

A realidade pode até ser crua,
mas nua não é.
Está vestida com o hábito do pudor.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Descoberta

porque tentava conhecer-me
desfiz-me
e a despeito da dor
gozei
de uma alegria complacente
que me fazia inocente pelos erros cometidos
dos vôos não alçados

a verborragia que estava ali
presa por vidro translúcido
não permitia que eu me ouvisse
eu só me falava
eu só era causa.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Sexta feira santa

a boneca de louça encardida tem uma fissura na têmpora esqueda
colada com superbonde
sinal dos tempos em que o plástico imperioso tenta afugentar a memória.

in corpora sólidos, o primeiro beijo da menina,
o enfeite no cabelo do primeiro baile...
o buque de flores desbotado da mesa de jantar reclama a presença de alguns entes queridos.

a secretária eletrônica atende a ligação,
depois de 10 toques que ensaivam (em vão) atrapalhar o jantar.
-olá, não estou, deixe sua mensagem após o sinal...

biiipppppppppppp
dá para ouvir o barulho dos garfos sendo soltos aos pratos.
mas a pessoa não quis deixar recado
e agora estão checando a bina para ver quem ligou.

diante da cena, a boneca, aquela, sorri
como sempre. ela tem o que a humanidade almeja:
felicidade eterna.
as pessoas, sorriem também.
boas notícias?
nem... é o costume.

- o jantar esfriou.
- não se preocupe. o pirex vai ao microondas.
- 1 minuto na potência alta é o suficiente.
Em e xa tos 60 segundos o problema é resolvido.
garfos elegantemente em punho,


e tudo volta a ser como antes.
c'est la vie.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Parto

As palavras nascerão de cesárea, serão robustas e salutares.
Elas promoverão minha voz ao som que seus ouvidos almejam.
Trarão felicidade ao nosso lar
compreenderemos um ao outro
toda vez que as lermos
lembraremos das felicidades, risadas; das tristezas, lábios mordidos.



Eis o ponto de partida... talvez não um ponto, mas um travessão.